ATUAÇÃO
FONOAUDIOLÓGICA NA SÍNDROME DE DOWN
· CONCEITO:
“A síndrome de Down (SD) ou
trissomia do cromossomo 21 é uma condição humana geneticamente determinada; e a
principal causa de deficiência intelectual. O termo “síndrome” significa um
conjunto de sinais e sintomas e “Down” o nome do médico e pesquisador que
primeiro os descreveu. Síndrome de Down significa, portanto, o conjunto de
sinais e sintomas descritos por John Langdon Down, em 1866, cuja etiologia foi
elucidada por Jerome Lejeune em 1959, como trissomia do cromossomo 21.1-3
Compreendida como uma condição humana a SD em si não é uma doença, mas sim um
modo de estar no mundo, próprio da diversidade humana, que pode estar associado
a maior incidência de algumas patologias.1 Assim, as pessoas com SD, apresentam
diferenças tanto de características físicas quanto de desenvolvimento, que decorrem
de aspectos genéticos individuais, intercorrências clinicas, nutrição,
estimulação, experiência educacional, contexto familiar e social e do meio
ambiente em que estão inseridos. Apesar dessas diferenças, há um consenso da
comunidade científica de não se atribuir graus à SD; portanto, não é correto
afirmar que uma pessoa tem um grau leve de SD, porque a expressão de suas
características externas é pequena ou porque seu desenvolvimento é bom.”1
- IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NOS INDIVÍDUOS COM SÍNDROME DE DOWN:
A
Síndrome de Down (SD) é uma condição genética reconhecida desde 1886, que
constitui, por excelência, uma das causas mais frequentes de deficiência
intelectual. Apresenta uma série de características que envolvem, além do
desenvolvimento cognitivo, questões relacionadas à comunicação humana, que,
naturalmente, se constitui objeto de estudo e atuação da Fonoaudiologia.
São
vários os aspectos clínicos que justificam a atuação fonoaudiológica na SD:
· Cavidade
oral de tamanho reduzido;
· Hipotonia
dos músculos orais;
· Projeção
mandibular e da língua;
· Alterações
na arcada dentária;
· Respiração
oral;
· Perdas
auditivas;
· Atraso
global do desenvolvimento (com comprometimentos motores, linguísticos e
cognitivos).3
Todas
essas características somadas à deficiência intelectual dificultam o
desenvolvimento da linguagem e interferem, sobremaneira, na produção da fala.
Tendo
em vista a diversidade da problemática que envolve pacientes com a SD, faz-se
necessário que pais e profissionais de saúde atuam com atenção em bebês e
crianças, a fim de proporcionar ganhos significativos durante o seu
desenvolvimento, tanto em nível orgânico e fisiológico, quanto cognitivo.
·
- ESTIMULAÇÃO PRECOCE:
Esses
comprometimentos, apesar de previsíveis, podem ser minimizados através da
“estimulação precoce”. O termo “precoce”, nesse caso está sendo utilizado para
adjetivar ações antecipadas, tendentes a evitar, atenuar ou compensar déficits
ou suas consequências. Nesse sentido, a estimulação precoce refere-se a um
conjunto dinâmico de atividades e recursos, humanos ou ambientais,
incentivadores, que são destinados a proporcionar à criança, nos primeiros anos
de vida, experiências significativas para que possa alcançar êxito em seu
processo evolutivo. Assim, a participação de crianças com SD em processos
terapêuticos desde a tenra infância, produz resultados notórios e
satisfatórios, principalmente quando a família pode usufruir de orientações que
favorecerão o desenvolvimento da criança. Dessa forma, o objetivo dessa
postagem é orientar as famílias e divulgar as contribuições da Fonoaudiologia
na SD.3
Vale
a pena ressaltar que as crianças com SD apresentam deficiência primária devido
à trissomia no cromossomo 21, mas como qualquer ser humano tem a plasticidade
do sistema psiconeurológico. Trata-se da capacidade adaptativa do sistema
nervoso central em promover habilidades para modificar e adequar sua
organização estrutural e funcional de acordo com as particularidades de cada
pessoa. Graças a essa condição inerente ao ser humano, o processo de
(re)habilitação é possível e torna-se uma ferramenta importante para o
desenvolvimento de estratégias fonoaudiológicas.
·
- ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NAS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS OROFACIAS NA SÍNDROME DE DOWN:
Para
amenizar ao máximo as alterações miofuncionais orofaciais, é necessário o
acompanhamento fonoaudiológico, cujo objetivo é orientar, avaliar, restabelecer
ou adequar das funções estomatoglossognáticas (respiração, sucção, mastigação,
deglutição e fala). Para adequar essas funções, é importante adequar, também,
os órgãos fonoarticulatórios, quanto à tonicidade, à mobilidade e à postura de
repouso, principalmente de bochechas, língua e lábios, que podem ser
trabalhados desde a fase imediatamente após o nascimento.
As
modificações do sistema estomatoglossognático impostas pela SD podem modificar
o processo típico de coordenação e funcionamento da
sucção-deglutição-respiração, dificultando a amamentação. É importante a
presença de um profissional acompanhando as primeiras mamadas para que as
dúvidas sejam sanadas e alterações corrigidas, adaptando mãe e bebê para o
melhor desenvolvimento possível. A avaliação fonoaudiológica miofuncional deve
observar a sucção, mastigação, deglutição, respiração, fonação e fala,
considerando:
• Tipo de
administração alimentar: aleitamento materno no peito, uso de mamadeira; via
oral, sonda nasográstrica, sonda orogástrica.
• Posicionamento
durante as refeições.
• Dificuldade nas
funções alimentares: sugar, sorver, amassar, mascar, mastigar e deglutir.
• Sinais clínicos:
tosse, sudorese, dispneia, apneia, recusa, engasgos, doença de refluxo gastroesofágico,
sonolência.
• Tipos de alimentos
oferecidos: líquidos, pastosos e sólidos.
• Sucção não
nutritiva: presente com chupeta e/ou com sucção digital.
• Tipo de respiração:
oral, nasal, mista.
• Tipo de utensílio
utilizado para apresentação do alimento.
• Nível de
dependência e mobiliários utilizados e se tem necessidade de adaptações.
- ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA EM AUDIOLOGIA NA SÍNDROME DE DOWN:
A
perda auditiva na SD geralmente ocorre devido a alterações anatômicas.
Normalmente, o tipo de perda é condutiva, gerada por otite média. Tal quadro se
instala em razão de diferentes fatores, como: hipotonia muscular verificada na
região de cabeça e pescoço e, por consequência, dificuldade de eliminação de
fluídos; malformação da tuba auditiva; hipoplasia da mastoide e diminuição do
canal auditivo externo.
A
avaliação audiológica em indivíduos com SD é fundamental, visto que a
incidência de perdas auditivas nessa população é elevada. Investigar como estão
as estruturas auditivas é de suma importância, pois a perda auditiva,
principalmente nos primeiros anos de vida, irá influenciar sobremaneira na
recepção auditiva das estimulações recebidas, que por sua vez é essencial para
o desenvolvimento da linguagem. A identificação precoce de perdas auditivas
(condutiva, sensorioneural coclear ou retrococlear) e alterações na percepção
auditiva possibilita uma intervenção imediata, oferecendo condições para o
desenvolvimento da fala, da linguagem, da sociabilidade, do psiquismo e do
processo educacional da criança, permitindo prognósticos mais favoráveis nesses
campos.3
- ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA EM LINGUAGEM NA SÍNDROME DE DOWN:
Geralmente,
as crianças com SD seguem a mesma sequência e passam pelos mesmos marcos de
desenvolvimento de crianças sem a síndrome, entretanto pode haver diferenças
quanto ao ritmo em que esses marcos são alcançados, sendo eles mais lentos.
Desse modo, é importante que a família busque precocemente um acompanhamento
interdisciplinar, entre eles o fonoaudiológico, a fim de estimular os
potenciais do indivíduo e diminuir as implicações provocadas pela síndrome no
desenvolvimento da criança.
Um
dos principais comprometimentos provocados pela SD é o atraso no processo de
aquisição e desenvolvimento da linguagem das crianças, que pode estar
relacionado ao déficit cognitivo, em especial a dificuldades na memória de
curto prazo; a prejuízos na qualidade da interação mãe-bebê; as alterações do
sistema estomatoglossognático; ao atraso no desenvolvimento neuropsicomotor; as
alterações neurológicas, auditivas e visuais.
Essa
gama de distintas dificuldades faz com que as crianças com SD aprendam novas
palavras e expandam seu vocabulário mais lentamente do que crianças com
desenvolvimento típico da linguagem, além de apresentar dificuldades na
inteligibilidade da fala e problemas fonológicos e articulatórios.
No
processo de aquisição da linguagem, as crianças com SD apresentam preferência
pelo uso de produções gestuais (ou a associação dessa com a fala).
Os
gestos de apontar são importantes para a aquisição da linguagem, pois
fundamentam a atenção conjunta, servem como um gatilho para a interação e
facilitam o desenvolvimento das primeiras palavras e, em seguida, a combinação
de palavras pela criança.
Além
disso, para as crianças com SD, os gestos favorecem a ampliação do vocabulário.
Eles parecem constituir um meio para o aprendizado de novos significados, dando
à criança a possibilidade de praticar a comunicação desses novos significados,
de forma a prepara-la para expressá-los posteriormente por produções verbais. A
integração entre gestos e as produções vocais favorece a aquisição da linguagem
da criança com SD, pois eles interagem e se aprimoram durante a produção
linguística e troca comunicativa, assim como auxilia na construção de
referências e do simbolismo.3
A
terapia fonoaudiológica para estimulação da linguagem voltada à criança com SD tem
como objetivo tornar mais eficiente ou ampliar suas possibilidades de expressão
(fala, gestos, expressões faciais, uso de alternativas de comunicação),
enriquecer o seu ambiente linguístico e favorecer a compreensão da linguagem.
Deve ainda abranger situações comunicativas da criança em diversos contextos e proporcionar
uma participação mais ativa nas interações sociais, uma vez que é na interação
e mediação que o ser humano constitui formas de expressão, compreensão e ação
no mundo.
- ATUAÇÃO FONOADIOLÓGICA NA APRAXIA DA FALA NA INFÂNCIA:
A
apraxia de fala na infância pode ser definida como um distúrbio motor da fala
(neurológico), que afeta a habilidade da criança em produzir e sequencializar
os sons da fala.
A
criança tem ideia do que quer comunicar, mas seu cérebro falha ao planejar e
programar a sequência de movimentos/gestos dos órgãos fonoarticulatórios, para
produzir sons, sílabas, palavras e frases. Quanto mais extensa a palavra, maior
a dificuldade.
Uma
característica observada nas crianças pequenas, é que sua fala é muito
limitada, com pobre repertório de palavras e/ou apresentam fala ininteligível
(difícil compreensão).2
O
fonoaudiólogo é o profissional habilitado para avaliar, diagnosticar e
determinar o plano de tratamento na apraxia de fala na infância (AFI).2
As
principais características observadas apraxia da fala em crianças com SD são:
- Inconsistência na produção dos sons da fala;
- Diminuição da inteligibilidade da fala à medida em que o comprimento do enunciado aumenta (palavras e frases mais extensas);
- Repertório limitado de fonemas da língua;
- Dificuldade na combinação e sequencialização dos sons;
- Troca de sons ou sílabas dentro de uma palavra (ex.: em vez de “verde”, o sujeito fala “vrede”);
- Habilidade para realizar movimentos voluntários de fala comprometida;
- Comprometimento do ritmo da fala;
- Imitação de fala deficiente; com mais erros do que a fala espontânea;
- As alterações de fala mais comuns são as substituições de sons, seguidas das omissões, inversões, adições, repetições, distorções e prolongamentos dos fonemas;
· Os erros na fala aumentam à medida que aumenta
a complexidade do ajuste motor exigido: as vogais provocam menos erros que as
consoantes isoladas; os fonemas fricativos são os que provocam mais erros; as
produções mais difíceis são as sílabas constituídas por grupos consonantais; a
consoante inicial apresenta uma maior inconsistência de erros e esses aumentam
à medida que aumenta o comprimento da palavra.3
- ONDE ENCONTRAR ATENDIMENTO FONOAUDIOLÓGICO PARA INDIVÍDUOS COM SÍNDROME DE DOWN:
o
DISTRITO FEDERAL –
BRASÍLIA – ÁGUAS CLARAS
Fga. Danielle Gregório – CRFa.5: 13000
Você pode
agendar sua consulta pelo telefone:
📱(61)99660-4202
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FONTES:
1Escola de Educação
Permanente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo.
2GIUSTI, E. CUNHA, F.
Folder da apraxia-kids.org
3DELGADO, I; et al. Contribuições da Fonoaudiologia na Síndrome
de Down. 1. ed. Ribeirão Preto, SP: Booktoy, 2016.
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